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Galiza :: 20/05/2004

Entrevista a Maurício Castro, cabeca de lista de NóS-Unidade Popular às Eleicons ao Parlamento europeu

NóS-Unidade Popular
"Votar NóS-UP é votar antiglobalizacom e autodeterminacom; é dar voz a esta nacom europeia tanto tempo silenciada"

Entrevista a Maurício Castro, cabeca de lista de NóS-Unidade Popular às Eleicons ao Parlamento europeu

"Votar NóS-UP é votar antiglobalizacom e autodeterminacom; é dar voz a esta nacom europeia tanto tempo silenciada"

20 de Maio de 2004

Quando falta menos de um mes para as Eleicons ao Parlamento europeu de 13 de Junho, oferecemos umha entrevista ao cabeca de lista da que é primeira candidatura independentista galega numhas eleicons europeias. Trata-se de Maurício Castro, nascido em 1970 e activista em diversos movimentos sociais galegos durante os últimos quinze anos. Condenado por insubmissom a quatro anos de inabilitacom na segunda metade da década de noventa, participou na formacom do Movimento Defesa da Língua em 1996 e da Fundacom Artábria, de Trasancos, em 1998, ocupando o cargo de presidente durante os primeiros anos. Trabalhador do Ensino como professor de galego-portugues, é autor de diversas obras de temática lingüística e sociolingüística galega. Foi membro da primeira Direccom Nacional de NóS-UP, saída da Assembleia Nacional Constituinte de 2001. Na actualidade, mantém a sua filiacom independentista e em defesa da língua, compatibilizando a participacom sócio-política com o trabalho na emigracom de maneira temporária. Com ele conversamos sobre algumhas questons em relacom com a convocatória eleitoral de Junho.

nosgaliza.org: Quais os motivos para que NóS-Unidade Popular tenha roto a sua dinámica anterior de nom participar em processos eleitorais?

Maurício Castro: Qualquer que ler os textos aprovados e publicados pola nossa organizacom poderá comprovar que NóS-UP nom é abstencionista ou anti-eleicons por princípio. Ao contrário, sempre dixemos que havíamos de analisar cada processo em cada momento político e, a partir daí, decidir a nossa posicom. Aliás, somos umha organizacom nova, que nos seus primeiros anos de vida tem dado prioridade ao afiancamento organizativo e ao trabalho social frente a umha concorrencia eleitoral que teria sido meramente testemunhal. Desta vez, as condicons mudárom: NóS-UP atingiu umha certa solidez orgánica após a II Assembleia Nacional, que lhe permite fazer frente a umha campanha que, mesmo sendo modesta, dará a conhecer a alternativa da esquerda independentista a novos sectores sociais aos quais nom tínhamos chegado até este momento. Além disso, valorizou-se como fundamental que a Galiza conte com umha candidatura nacional, antipatriarcal e de esquerdas numhas eleicons que servem de montra para reivindicar a existencia de umha nacom europeia chamada Galiza. Se a isto somarmos a inexistencia de qualquer outra lista 100% galega para além da nossa, fica claro que a decisom de participar neste processo eleitoral é correcta, mesmo sendo conscientes que NóS-UP é ainda umha forca minoritária e pouco conhecida para maioria do povo galego.

Muita gente ficou gratamente surpreendida pola exitosa campanha de recolha de 15.000 assinaturas que precedeu a inscricom da candidatura de NóS-UP.

M.C.: A verdade é que se trata de umha grande vitória para o nosso movimento, que conseguiu vencer um antidemocrático obstáculo à participacom em pé de igualdade das distintas opcons existentes na sociedade galega. Havia pouco tempo e era necessário um grande trabalho, mas sabíamos que consegui-lo iria servir para reforcar a imagem de NóS-Unidade Popular como aquilo que pretende ser: umha organizacom séria e comprometida com a Galiza a partir de posicons inequivocamente de esquerdas. Para nós era importante garantir umha candidatura galega, de esquerda e independentista, frente ao sucursalismo eleitoralista ensaiado desta vez polo BNG, que rompeu com o princípio histórico de avancar só com as forcas próprias e nom tentar voar com asas emprestadas. O próprio independentismo tinha historicamente cometido erros semelhantes e, nesse senso, NóS-UP representa o novo independentismo que, apesar da sua dimensom ainda restrita, tem claro que só avancará se mantiver o centro de gravidade na Galiza e contar com a forca do próprio povo trabalhador galego.

A campanha das 15.000 assinaturas, que afinal f'rom mais de 20.000, é a melhor mostra de que a conviccom e o trabalho sério dam os seus frutos. Também há que reconhecer que pujo em evidencia a existencia de um importante corpo social que defende firmemente a democracia e o pluralismo frente a tanto autoritarismo como o PP impujo durante a sua etapa de governo. O resultado é que @s galeg@s nacionalistas e de esquerdas terám no dia 13 de Junho umha alternativa que nom passa nem por votar nas direitas regionalistas catalá e basca, nem em forcas alheias ao nosso país que ultimamente tenhem exercido certa fascinacom em sectores desencantados da base social nacionalista.

A quem se dirigirá, entom, a campanha eleitoral de NóS-Unidade Popular?

M.C.:O orcamento e meios materiais com que contamos som muito limitados. Nom queremos enganar ninguém, e sabemos quais som as nossas próprias limitacons. O voto em NóS-UP será sobretodo o voto de galegos e galegas politizad@s e conscientes, com um importante compromisso na defesa da Galiza. Mas qualquer que veja a configuracom da nossa candidatura poderá comprovar que nom defendemos retoricamente umha Galiza abstracta e idealista. Nós diferenciamo-nos de outras concepcons nacionalistas existentes na Galiza, que de maneira populista pretendem situar o nacionalismo por cima das esquerdas e as direitas, do bem e do mal, no limbo político, caindo afinal na reproducom das mesmas políticas neoliberais e conservadoras dos de sempre... nom, essa nom é a nossa visom. A Galiza que nós defendemos é a Galiza das classes populares, e o agente político da sua transformacom é para nós exclusivamente o povo trabalhador. Daí que a totalidade de integrantes da lista de NóS-UP sejam trabalhadoras e trabalhadores, maioritariamente assalariad@s, desempregad@s e jovens. Além disso, o praticamente igual número de mulheres e homens dá ideia do nosso empenho, tanto a nível social como interno da organizacom, em conseguir que a mulher galega reivindique a igualdade real, combatendo o actual modelo patriarcal imperante. Trabalhadores/as, jovens e mulheres sintetizam portanto a nossa alternativa, e é a eles e a elas que dirigimos a nossa mensagem nestas Eleicons.

Qual a posicom de NóS-Unidade Popular ante a UE e, em concreto, ante questons de actualidade como o seu alargamento para Leste e a Constituicom europeia que irá ser aprovada em breve?

M.C.:Nom é nengumha novidade afirmar que somos contra o modelo de UE imposto polos grandes Estados europeus, que tam negativo se tem mostrado para um desenvolvimento endógeno galego e para a sua afirmacom nacional. A esquerda independentista galega tem promovido e participado em iniciativas sociais, algumhas de certa envergadura, de resposta à Europa do Capital em que Espanha nos meteu. Lembremos por exemplo as importantes mobilizacons e o Foro Social Alternativo de Marco de 2002 em Compostela, coincidindo com a reuniom das cúpulas dos Ministérios do Interior e Justica europeus na nossa capital. Também temos participado em manifestacons internacionais europeias e antiglobalizacom, sempre denunciando a Europa policial e imperialista, reivindicando a Europa dos Povos e a autodeterminacom.

Rejeitamos a Constituicom europeia que estám a cozinhar as oligarquias dos grandes estados, baseada na desigualdade, na negacom da autodeterminacom dos povos, no racismo anti-imigracom, no controlo social e o imperialismo.

NóS-UP sente-se parte da ampla movimentacom popular que na Europa toda enfrenta esse modelo capitalista, fazendo-lhe frente nas ruas e na construcom de umha alternativa a partir da base, plural e democrática, anticapitalista e socialista. Nom partilhamos visons reformistas como as que nas fileiras do sector maioritário do nosso nacionalismo mesmo chegam a enxergar algumha virtualidade positiva numha Constituicom europeia criada precisamente para afogar qualquer dissidencia e garantir a imposicom do modelo de capitalismo selvagem que marcam o FMI, o Banco Mundial e as grandes oligarquias. A UE representa hoje apenas um concorrente imperialista do hegemonismo norte-americano no afám de uns e outros por acapararem mercados e dominarem o planeta. De facto, uns e outros promovem por activa ou por passiva guerras pola rapina dos recursos de países como o Afeganistám ou o Iraque, mostrando a sua cumplicidade com "sócios" como o sionismo na Palestina ou o imperialismo russo na Chechénia.

Quanto ao alargamento da UE, para além da sua explicacom a partir dessa lógica do mercado e o Capital, nom deixa de chamar a atencom como países com menos habitantes e com territórios semelhantes em extensom ao da Galiza som admitidos na Uniom Europeia como tais estados soberanos, enquanto o PP e o PSOE se empenham em "demonstrar" a inviabilidade da soberania nacional galega e das restantes nacons submetidas polo Estado espanhol. É claro que a independencia da Galiza tem absoluta viabilidade, daí a preocupacom espanhola em incluir no texto constitucional europeu a impossibilidade de que a UE poda reconhecer no futuro a soberania de nacons sem Estado como a Galiza, que luitam pola sua independencia.

Que utilidade terá para um galego, para umha galega, votar na candidatura de NóS-Unidade Popular?

M.C.:NóS-UP tem manifestado o seu rejeitamente do chamado "voto útil" nas forcas reformistas maioritárias. A gestom de governos municipais por parte de organizacons que reclamam esse "voto útil" em nome do nacionalismo e a esquerda acabou por dar a razom a aqueles e aquelas que sempre demos ao nosso voto o valor suficiente para nom o entregar como cheque em branco a quem na sua prática política demonstra nom servir os nossos interesses como galeg@s conscientes, nacionalistas de esquerdas.

Frente à manifesta inutilidade do mal chamado "voto útil", NóS-Unidade Popular representa o voto de resistencia, o voto rebelde e contra o sistema que o capitalismo espanhol e as oligarquias europeias nos imponhem. O voto contra as guerras imperialistas, contra as marés negras, a manipulacom mediática e o espanholismo. Um voto de defesa activa da nossa língua e dos nossos direitos nacionais. Que ninguém duvide que o Estado espanhol e a Europa dos mercadores ficarám preocupados com o crescimento de alternativas como a nossa ao longo do continente. Votar NóS-UP é votar antiglobalizacom e autodeterminacom; é dar voz a esta nacom europeia tanto tempo silenciada.

Por outra parte, o nosso é um projecto que nom se constrói em dous dias, nem gira à volta de cada convocatória eleitoral. Este é só mais um passinho na criacom de forca social com o objectivo de construir Galiza e transformar a sociedade no trabalho e a luita de cada dia. Por isso excluímos entrar no tráfico eleitoral das promessas vácuas e esquecidas no dia a seguir das Eleicons. O nosso compromisso com o povo trabalhador galego é verificável ao longo de todo o ano e nom só nos processos eleitorais; na nossa participacom nas luitas e a defesa da democracia participativa, incompatível com o eleitoralismo e a passividade promovidos polos partidos convencionais. O voto em NóS-UP servirá, isso sim, para fortalecer essa estratégia e apresentar umha emenda à totalidade ao injusto sistema actual.

Web de NóS-UP

 

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